quinta-feira, 29 de março de 2012

Rapaz-íman deixa médicos sem explicação

Mais um exemplo de mau jornalismo, desta vez por parte da SIC, que no passado dia 9 de Julho promoveu o mistério do rapaz-íman do Brasil, Paulo David Amorim, que supostamente consegue colar objectos de metal ao seu corpo, fenómeno para o qual, diziam eles, “os médicos não têm explicação”. Não consegui encontrar o vídeo no site da SIC, no entanto encontrei o vídeo da Sky News onde fazem um trabalho idêntico.





A coisa que mais me irrita neste tipo de notícias é a tendência para as apresentar como se fossem pequenas curiosidades, que acabam sempre por terminar com uma aura de mistério no ar. Isto seria completamente desnecessário se tivesse sido feito algum trabalho de investigação. Contudo, desengane-se quem pensa que isto é feito por acaso: por um lado, o mistério convida o espectador ou leitor a fantasiar a sua própria explicação extraordinária, e por outro, não ofende as crenças pessoais de ninguém. Esta pode até ser a fórmula ideal para vender notícias, mas não me parece que seja uma forma de fornecer informação de qualidade.

Estas afirmações de poderes magnéticos paranormais não são nada de novo, o rapaz brasileiro é apenas o caso mais recente, só este ano é já o terceiro. O ilusionista James Randi, conhecido por oferecer um prémio de 1 milhão de dólares a quem conseguir provar a existência de qualquer fenómeno sobrenatural ou paranormal, lida com este tipo de disparates e fraudes há décadas (ver aqui e aqui). Estas pessoas “magnéticas” são normalmente indivíduos de ascendência asiática ou então crianças pré-adolescentes, e mais à frente vão perceber o porquê.

Em Fevereiro, um rapaz sérvio chamado Bogdan, tornou-se num fenómeno da Internet pelas mesmas razões. Os pais afirmavam que ele atraía talheres e até objectos não metálicos, como pratos e o comando da televisão, não podendo sequer aproximar-se de um computador por risco de este deixar de trabalhar. Pelo menos neste caso, a TVI decidiu chamar um professor do Instituto Superior Técnico para verificar se aquilo era ou não fisicamente possível.




Em Maio, Ivan Stoiljkovic, um rapaz croata de seis anos, teve também também a sua oportunidade para deslumbrar pessoas facilmente impressionáveis com os seus dotes “magnéticos”. Mas para além de atrair talheres, telemóveis e até frigideiras, Ivan possui ainda poderes curativos “inexplicáveis”, tendo curado a dor de barriga do avô e a dor na perna de um vizinho que sofreu um acidente de tractor. Fascinante! Eu prevejo um futuro brilhante para este jovem, quer seja na medicina ou na área da restauração.



Mas o que se passa realmente aqui?

    Isto não tem nada a ver com magnetismo. Como é possível observar pelas imagens, eles colam ao corpo objectos que nem sequer são metálicos, como por exemplo os pratos. E por algo ser metálico não significa necessariamente que seja magnético, a maior parte dos talheres são feitos de aço inoxidável não-magnético. A única coisa que os objectos possuem em comum é o facto de terem uma superfície lisa. Além disso, os objectos nunca são vistos a serem atraídos pelo corpo, em vez disso, são colados um a um.
    As pessoas “magnéticas” possuem pouco ou nenhum pêlo corporal. Existe uma razão para o facto da maioria das pessoas “magnéticas” serem de ascendência asiática ou crianças pré-adolescentes – pouco ou nenhum pêlo corporal. Este é um pormenor importante pois os pêlos reduzem a fricção entre os objectos e a pele, tornando mais difícil a sua aderência.
    O “magnetismo” só funciona numa determinada posição. Nas imagens eles permanecem sempre perpendiculares ao chão, isto quando não são vistos a inclinar-se ligeiramente para trás. Se realmente existisse magnetismo ou uma outra força atractiva qualquer, eles deveriam poder inclinar-se para a frente, sem qualquer problema, com os objectos colados ao peito. Em adição a isso, é também de notar que todos os rapazes possuem uma barriguinha que confere um apoio extra para os objectos mais pesados.
    O segredo é não tomar banho. O que se passa aqui é que os objectos estão simplesmente a aderir à pele, devido ao sebo produzido pelas glândulas sebáceas, isto conjugado com a falta de pêlos e uma certa dose de equilíbrio é o suficiente para explicar este “mistério paranormal”.

Testar esta gente é bastante fácil: Se existisse realmente uma força atractiva, então não existe motivo algum para que os objectos se colem apenas à pele nua. Um magnetismo assim tão forte deveria funcionar inclusive através de uma t-shirt. Se mesmo assim preferirem fazê-lo em tronco nu, existe sempre a hipótese de besuntá-los em óleo ou polvilhá-los com pó de talco. E em último recurso, correndo o risco de parecer demasiado radical, porque não um bom banho?!


Fonte - http://astropt.org - por

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